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sábado, 22 de junho de 2013

O Dia do Senhor e o Culto Reformado



Por Ian Hamilton


Até algum tempo atrás, uma das marcas distintivas do culto reformado era o seu compromisso com a santificação do Dia do Senhor como o tempo divinamente prescrito para que o povo da aliança de Deus adorasse esse Deus da aliança.


Esta perspectiva puritana possivelmente está melhor demonstrada na Confissão de Fé de Westminster:

“Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção de tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também, em sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens, em todas as épocas, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (= descanso) santificado por ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo, foi mudada para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado dia do Senhor (= domingo), e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão”.

Dizendo isso, os puritanos estavam em consonância com os reformadores ao dizer que o shabbat (sábado) não era o único dia em que o povo de Deus se reunia para o culto e também não estavam dizendo que a adoração é um tipo de atividade exclusivamente corporativa e que apenas acontece quando a igreja se une para adorar.

Foram os reformadores e puritanos que resgataram para nós a idéia de que adoração é a resposta do crente momento após momento à Palavra de Deus. Ao mesmo tempo eles tinham uma convicção apaixonada quanto a este ponto. Diziam que o culto cristão tem que ser ancorado e baseado no Dia do Senhor. Existe um debate que sempre está presente entre os próprios reformados com relação ao Dia do Senhor e o shabbat (sábado). Devemos considerar o Dia do Senhor como o shabbat? Isso ficará claro à medida que formos expondo o assunto.

Os que creem na perpetuidade do sábado cristão como sendo uma ordenança da graça que é obrigatória para todo povo de Deus, precisam lembrar que não estamos simplesmente engajados num conflito para persuadir nossos irmãos em Cristo e que passagens como Colossenses 2:16-17 não estão abolindo o sábado cristão que foi instituído na criação. Nossa batalha é muito mais séria que isto, pois estamos batalhando para resgatar os irmão cristãos dos efeitos corrosivos da cultura contemporânea. O que estamos dizendo é, que o assunto tratado aqui, dentro da tradição reformada, não é somente de persuadir nossos irmãos em Cristo do caráter divino, mandatório do sábado cristão (shabbat) como sendo uma ordenança vinda da criação e do Evangelho, mas na verdade estamos diante de um trabalho ainda mais exigente. Ou seja, de persuadir nossos irmãos em Cristo da sabedoria daquele que nos deu o shabbat, do regozijo que é o sábado cristão e dos efeitos corrosivos e fatais de permitirmos que nossa cultura contemporânea venha formatar nossa vida espiritual e dos nossos filhos.

Fiquei extremamente espantado quando, há alguns anos, passei um período nos Estados Unidos e vi que o dia da final do campeonato de futebol, o evento esportivo mais enfatizado do ano, era praticado no Dia do Senhor e que muitas igrejas evangélicas, cristãs, naquele dia, até mesmo que professavam a fé reformada, cancelavam até os seus cultos dominicais para permitir que as pessoas fossem assistir este jogo. Quase não acreditei que isso estivesse acontecendo. Porém, disseram-me que mais igrejas mudariam até o horário de culto para permitir aos crentes irem a esta final de campeonato.

Eu tenho um filho que gosta muito de futebol e gosta muito de jogar. Outro dia ele me perguntou por que se marcavam tantos jogos exatamente no Dia do Senhor. Meu filho gosta muito de futebol e por isso fica frustrado quando não pode jogar e sente falta do jogo, mas mesmo assim não deixa de ir à igreja para participar dos jogos de futebol e nem ao menos pensa nisso. Mas percebo que esta situação vem continuamente se projetando para tomar controle sobre a igreja. 

Levanto esta questão porque o problema não é realmente a guarda do sábado cristão, mas é algo mais profundo que isso. O assunto com o qual nos deparamos é o caráter de Deus, a Sua autoridade, a verdade de Sua Palavra e a sua suficiência. Se estamos convencidos que Deus é bom, somente bom, e que todos Seus caminhos para Seus filhos são sábios e agradáveis, isso nos deveria persuadir a abraçar com alegria a santificação do Dia do Senhor. Não deveríamos ser levados a pensar que as leis do Dia do Senhor não são mais para nós hoje e que por isso têm sido abandonadas por muitos cristãos que professam a fé reformada e que têm se esquecido de santificar este dia. A razão para isso é que eles não têm compreendido o sentido do Dia do Senhor.

O problema é mais profundo. A verdade é que as pessoas perderam o contato de quem Deus é. Creio que dificilmente poderíamos duvidar que, quando o Dia do Senhor não é uma ordenança graciosa, o culto na igreja deteriora e em seguida a sociedade deteriora. O Dia do Senhor é um testemunho da grande benignidade de Deus para com Seu povo e nos dá um tempo divinamente apontado por Deus para que nós O adoremos e Deus mesmo nos dá o foco apropriado em relação à Sua adoração.

Quero apresentar dois aspectos com respeito à guarda do Dia do Senhor.
1) Explicar o caráter obrigatório do Dia do Senhor para o cristão; essa era a convicção dos reformados e puritanos e que surgiu de uma compreensão correta das Escrituras.
2) Destacar o significado e os benefícios de se observar o Dia do Senhor reservando-o para um culto que honra a Deus.

Caráter Obrigatório

I) Inicialmente gostaria de dizer que o Dia do Senhor foi instituído por Deus na criação. Lemos em Gênesis 2 que Deus terminou sua obra no sexto dia e no sétimo descansou do que havia feito. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou porque nele descansara de todas as obras que havia feito. Antes que o pecado entrasse no mundo Deus já havia providenciado um sábado (descanso) para Adão e Eva e seus filhos. Nas palavras do grande presbiteriano John Murray, o sábado é uma ordenança da criação dada por Deus para o benefício de todas as Suas criaturas. Geralmente se diz que Calvino ensinava que o sábado, como dia de descanso, havia sido ab-rogado na dispensação do Novo Testamento. Para apoiar isso, são citados seus comentários sobre o quarto mandamento e sua exposição em Colossenses 2:16-17. Sem dúvida existe alguma diferença entre a perspectiva de Calvino e os puritanos, mas na minha opinião são circunstanciais e pequenas. Quando lemos o que Calvino escreveu no seu comentário de Gênesis 2:3, escrito em 1561, dois anos depois da edição final das Institutas, o que é bastante significativo, encontramos uma exposição que o reformador faz de forma sucinta, da sua perspectiva do sábado cristão. Calvino disse:

“Quando ouvimos que o sábado foi ab-rogado pela vinda de Cristo, devemos distinguir o que pertence ao governo perpétuo da vida humana e o que pertence propriamente às figuras antigas. O uso destas foi abolida quando a verdade foi cumprida. Descanso espiritual é a mortificação da carne ao ponto de que os filhos de Deus não devem viver para si mesmos ou permitir livremente as ações de suas inclinações. Assim, na medida que o sábado era uma figura desse descanso espiritual, eu digo que isso foi somente por um tempo (obs: com isso os puritanos concordariam). Mas, na medida em que foi ordenado aos homens, desde o início, de que eles deveriam se engajar no culto a Deus, é legítimo que o sábado cristão deva continuar até o fim do mundo. O sábado é uma ordenação da criação que é perpétua”.

II) A segunda coisa que tenho para afirmar é que o sábado cristão está baseado no exemplo divino. Esse é o ponto de Moisés em Êxodo 20:11. O ritmo do homem alternado entre trabalho e descanso é o sério padrão do ritmo criador. John Murray faz a seguinte afirmativa: “Podemos pensar no exemplo que Deus nos deu de trabalho e descanso como sendo um padrão de conduta eterno para a raça humana nas ordenanças de trabalho e descanso”.

III) A ordem de Deus para que guardemos o Dia do Senhor está embutida nos dez mandamentos. O quarto mandamento garante e valida a permanência do mandamento para guardarmos o Dia do Senhor e estabelece a guarda do sábado cristão no coração da vida de adoração do povo de Deus. Acho absurdo quando ouço irmãos que, dizendo-se reformados, tentam me convencer que o “shabbat”, o sábado, foi abolido, deixando um dos dez mandamentos fora de validade para a vida do povo de Deus. Na verdade, Deus deu validade à guarda do sábado por colocá-lo dentro do decálogo.

IV) Nosso Senhor Jesus Cristo destacou a importância da permanência do shabbat. Jesus nos diz em Marcos 2.27: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado”. O que mais poderíamos dizer com relação a isso? A minha preocupação é simplesmente mostrar a importância do fundamento da guarda permanente do shabbat. Deus tem gravado esta verdade em Sua Palavra e nós nos desviamos dessa ordenança apenas para sermos prejudicados espiritualmente. Pertence nossa obediência à verdade revelada de Deus e nossa submissão ao nosso Pai amorável. Tendo estabelecido o fundamento bíblico para o dia do Senhor e considerando a transição do sábado para o domingo, quero considerar quais os benefícios e o significado de guardar o dia do Senhor.

Significado e Benefícios

I) O shabbat nos dá uma oportunidade de buscar o Senhor e adorá-lo sem distração. No ano passado passei um tempo no Marrocos visitando famílias cristãs. Viver num país muçulmano como aquele significa não ter liberdade para guardar o Dia do Senhor como os cristãos gostariam. Mas em países como Brasil e Escócia ainda temos o privilégio precioso dado por Deus de preservar e guardar o Dia do Senhor como um dia santo. Irmãos, valorizem o Dia do Senhor; lutem por ele; os assuntos relacionados com a guarda do dia de descanso são profundos. Essa provisão que Deus nos faz que o adoremos sem distração alguma é uma visão que vem do próprio Deus.

II) O shabbat nos dá oportunidade de adorar coletivamente a Deus e buscá-lO juntos. O shabbat enfatiza o caráter bíblico e corporativo do culto que se deve prestar a Deus. O nosso Deus fez uma provisão graciosa por seu povo. Ou seja, que O adoremos juntos. Esta verdade perece dia após dia em nossa época. Desde o iluminismo, na cultura ocidental e particular, o indivíduo tornou-se o centro de todas as coisas e essa preocupação absorvente com o indivíduo desfechou um golpe mortal no pensamento bíblico com respeito à aliança. Os cristãos não têm mais qualquer doutrina, não têm mais esta compreensão do caráter coletivo da Igreja, e mesmo cristãos que se professam reformados não têm mais qualquer sentido do caráter corporativo do culto da aliança. Estou cada vez mais convencido que o sábado cristão é talvez o meio principal usado por Deus de educar o seu povo na vida e no culto do pacto. Guardar o Dia do Senhor, o sábado cristão, é o antídoto poderoso para aquele individualismo absorvente que marca tanto o mundo que nós vivemos como a igreja de Cristo.

III) O shabbat coloca diante de nós os grandes feitos de Deus na criação e na redenção. No sábado cristão somos graciosamente capacitados por Deus em nos centralizarmos na criação e na redenção e despertar nossos corações e mentes ao seu louvor. Calvino coloca o seu dedo exatamente nesse ponto. No livro II das Institutas, capítulo 8, ele diz:

“Durante o repouso do sétimo dia, na verdade, quando Deus determinou que se descansasse no sétimo dia, o legislador divino queria falar ao povo de Israel do descanso espiritual quando os cristãos devem deixar de lado o seu trabalho para permitir que Deus trabalhe neles”.

Em outras palavras, o shabbat nos dá oportunidade de repousar de nossas próprias obras e nos concentrar nas obras de Deus. Nesse sentido, o shabbat é um símbolo evangélico, um glorioso símbolo semanal da justificação gratuita. Nós vivemos em uma época em que os cristãos andam em busca de sinais e símbolos. Demos a eles o grande símbolo do Evangelho: um dos grandes símbolos e sinais do Evangelho é o shabbat que nos foi dado por Deus.

IV) O shabbat destaca a importância dos cultos matinais e vespertinos. Parece muito simplório. Mas mesmo assim é importante falar deles. Honrem o sábado cristão, não somente uma parte dele, mas como um todo. Se havia uma coisa que caracterizava a religião puritana, a prática puritana, era a maneira cuidadosa que brotava de seus corações e pela qual eles se entregavam alegremente, de forma não legalista, à guarda do Dia do Senhor.

V) O Dia do Senhor é uma preparação para o céu. Ouçamos as palavras de Richard Baxter: “Qual o dia mais apropriado para subir ao céu do que aquele em que Ele ressurgiu da terra e triunfou completamente sobre a morte e o inferno? Use o seu shabbat como passos para a glorificação até que tenha passado por todos eles e chegue à glória”. A religião puritana floresceu no solo regozijante da guarda do sábado cristão. É por causa destas coisas que somos chamados em Isaías 58, pelo próprio Senhor, para considerarmos o sábado como um deleite e a isso ele adiciona uma promessa. Se guardarmos seus sábados como sendo um deleite, encontraremos nossa alegria no Senhor.

Esse capítulo 58 de Isaías é mais uma confirmação de que a guarda do sábado cristão deveria ser considerada como parte da Lei Moral e não simplesmente mais uma observância pertinentes às leis cerimoniais. Esta passagem de Isaías onde o mero cerimonialismo é denunciado pelo profeta, há um apelo para a guarda do sábado como sendo importante para o culto espiritual.

Sei que existe o perigo de dar ao sábado cristão um lugar central no culto, fazendo com que ele torne-se um exercício de justiça própria. Sabemos da condenação tremenda feita pelo Senhor em Isaías 1. Mas os crentes reformados deveriam guardar o Dia do Senhor de forma santa. Devemos chamá-lo de um deleitoso. Por quê? Por causa de nossa obediência ao nosso Deus e amor ao nosso Salvador. Jesus disse: “Se vocês me amam, guardem meus mandamentos”.

Neste sentido a guarda do Dia do Senhor, o sábado cristão, ou é o resultado da obediência legalista, ou da obediência evangélica. Se for o produto de uma obediência legalista, a guarda do dia do Senhor será sem alegria, monótona, formal e alguma coisa que simplesmente traz auto-justiça e vaidade pessoal. Mas se a guarda do Dia do Senhor é o resultado de uma obediência evangélica, será profundamente regozijante. Diremos como o salmista: “Alegrei-me quando me disseram, vamos à casa do Senhor”. Se for uma guarda por causa de uma obediência evangélica, será algo refrescante que nos revigora e nos humilha.

John Murray, cujos escritos trouxeram uma impressão inapagável na minha vida quando moço (Por exemplo: Redenção, Conquistada e Aplicada (Cultura Cristã ― Obra que considerei como a melhor peça sobre justificação jamais escrita por alguém), disse: “O shabbat semanal é uma promessa, um sinal, e um antegozo daquele descanso consumado. A filosofia bíblica do shabbat é de tal maneira, que negar sua perpetuidade é privar o movimento da redenção de uma das suas mais preciosas características”.

Vivemos numa época em que mais do que nunca precisamos resgatar o shabbat para o povo de Deus, porque amamos o povo de Deus e desejamos seu bem diante de Deus. Sabemos que Deus quer abençoar Seu povo com isso. Mas sabemos também que a bênção que Ele deseja dar nunca virá sem a honra que o povo deve ao Dia do Senhor. Pelo bem espiritual dos nossos filhos devemos educá-los ensinando a honrar o Dia do Senhor, mas não como uma coisa rotineira e sem alegria. Como poderia o cultuar a Deus e esperar nEle ser algo monótono ou cansativo? Na verdade, o Dia do Senhor foi algo criado por Deus para o bem de Seus filhos. Estou quase convencido que o sucesso dos puritanos pode ser traçado por seu compromisso de guardar o Dia do Senhor para honra de Deus. Deus abençoou grandemente seus labores, seus escritos, porque foram homens e mulheres que honraram o dia do Senhor.

Finalmente cito Baxter porque creio que suas palavras expressam o coração da compreensão puritana com respeito ao shabbat: “Que dia é mais apropriado para subir ao céu do que aquele em que ele ressurgiu da terra e triunfou plenamente sobre a morte e o inferno? Use seus shabbats como passos para a glória até que tenha passado por todos eles e lá tenha chegado”.

O Dia do Senhor é para o povo do Senhor como um antegozo ou penhor do céu que nós tanto almejamos. Nós desejamos e sonhamos com aquele dia em que estaremos com o Senhor para sempre. Até que aquele dia venha, façamos do Dia do Senhor tudo aquilo que Deus gostaria que fizéssemos. Que seja o pulso palpitante da vida espiritual da Igreja e que partindo de nossa obediência evangélica nos reunamos para o encontro com nosso Deus e para receber as promessas que Ele decidiu nos dar, para aqueles que honram o Seu dia, porque assim honram aquEle que instituiu esse dia.


Amém.
 
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quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Exemplo dos Puritanos Ingleses


Por

Errol Hulse



 Por que deveriam os cristãos de hoje ter algum interesse pelos Puritanos ingleses? A resposta para isso é que os Puritanos ingleses deixaram para a Igreja Cristã uma das mais valiosas bibliotecas de livros expositivos. Em anos recentes tem havido um redescobrimento desta herança literária.

Quem eram os Puritanos ingleses?

Quando ocorreu a Reforma do século XVI três focos distintos de reforma se desenvolveram: o alemão, o suíço (incluindo a França) e o inglês. Destes três o mais fraco e menos auspicioso era o inglês. No princípio a oposição era feroz. Foram queimados até a morte na estaca 277 líderes cristãos durante o reinado da Rainha Maria. Ela chegou a ganhar o título de “Maria a Sanguinária’ durante o seu reinado de 1553 a 1558. Felizmente o reinado dela foi curto. No entanto, foi pelo sangue derramado e pelas cinzas queimadas dos mártires que a causa de Cristo cresceu e prosperou. Foi durante o reinado da Rainha Elizabeth (1558-1603) que o movimento Puritano nasceu. Ministros piedosos multiplicaram-se pela nação.
Esses ministros apoiaram um ao outro em uma fraternidade religiosa. No início os Puritanos receberam o nome Puritano porque eles buscaram purificar a Igreja Nacional de Inglaterra. Em tempos posteriores, porém, eles foram chamados de Puritanos por causa da pureza de vida que eles buscaram. Eles tinham a intenção de reformar a Igreja da Inglaterra. O seu anseio era conformar a Igreja nacional à Palavra de Deus em seu governo, adoração e prática. 


A Rainha Elizabeth era a cabeça da Igreja nacional e ela se opôs e bloqueou o avanço da reforma. Quando James I (que reinou entre 1603 a 1625) subiu ao trono havia a esperança de que finalmente a reforma progredisse. Ao invés disso a luta se intensificou. Nada melhorou quando Charles I subiu ao trono em 1625. Os ministros começaram a desacreditar de que haveria alguma melhora e alguns partiram para a América onde uma nova estirpe de Puritanos se desenvolveu. A situação chegou a um clímax quando a guerra civil começou durante a década de 1640. Naquele tempo Oliver Cromwell tornou-se o governador supremo em lugar do Rei. Quando Cromwell morreu não havia ninguém satisfatório para substituí-lo. A nação voltou à monarquia. Charles II subiu ao trono.
A luta na Igreja renovou-se com conflitos ainda mais árduos do que antes. Um ato do Parlamento foi aprovado, o qual exigia plena conformidade com regras que os Puritanos simplesmente não poderiam seguir. Em 1662 mais de 2000 ministros e líderes da Igreja de Inglaterra foram forçados a sair. Em lugar de comprometer suas consciências eles optaram por renunciar. Os historiadores consideram que o período Puritano encerrou-se naquele ano, 1662. Porém foi depois de 1662 que os Puritanos escreveram algumas de suas melhores obras. John Bunyan ficou preso durante doze anos depois de 1662. Foi na prisão que ele escreveu O Peregrino.
Dois Puritanos que viveram neste período posterior merecem especial atenção.
John Owen (1616-1683) é chamado “O Príncipe dos Puritanos’. Ele foi capelão no exército de Oliver Cromwell e vice-chanceler da Universidade de Oxford, mas a maior parte da sua vida ele serviu como pastor de uma igreja. Suas obras escritas somam 24 volumes e representam o que há de melhor em termos de teologia no idioma inglês. Em vários assuntos importantes como o Espírito Santo, Mortificação do Pecado e Apostasia, ele é insuperável.
Richard Baxter (1615-1691) foi um prolífico escritor e incluído em seus trabalhos está O Manual Cristão (The Christian Directory) que consiste em uma aplicação prática detalhada do evangelho a todos os aspectos da vida. Esta provavelmente é a exposição desse tipo mais abrangente que já foi escrita.
Na exposição de Baxter da Vida Cristã vemos a idéia Puritana de que a graça deve permear a natureza. 


Durante o período pré-reforma a graça e a natureza ficavam separadas. Este é o conceito do Universo em dois pavimentos. Escada acima está o espiritual e santo. Escada abaixo fica o pecaminoso, carnal e profano. Por exemplo, o clero foi proibido de se casar já que o matrimônio era considerado terrestre e, portanto, pecaminoso. Lutero reformou isso em parte e trouxe a graça para ficar lado a lado com a natureza. Por exemplo, ele se casou com uma ex-freira, Catarina. João Calvino foi mais adiante e ensinou que a graça deve permear a natureza. O que é terreno deve ser santificado pelo divino. Os Puritanos foram mais adiante ainda e ensinaram com maior detalhamento do que Calvino que os princípios bíblicos devem ser aplicados a todos os aspectos da vida. Há princípios bíblicos ou ética bíblica para o matrimônio, a educação de crianças e condução do lar, para os professores e professores universitários, médicos, advogados, arquitetos e artistas, para os fazendeiros e jardineiros, políticos e magistrados, para os homens de negócios e lojistas, para os militares e para os banqueiros. Para os Puritanos a dicotomia (divisão) entre natureza e graça, que era a visão prevalecente entre os teólogos medievais, estava essencialmente errada. Eles negaram qualquer ensino do tipo em que as coisas divinas são coisas santas e as terrestres são malditas e maculadas. Para os Puritanos a graça tem que penetrar e permear toda a vida terrestre e tem que santificá-la. Até mesmo os sinos dos cavalos são santificados para Deus (Zac 14:20).
Em contraste com isso os Anabatistas se retiraram da sociedade com base no argumento de que esta era pecadora e corrupta. Os Anabatistas desencorajavam os homens de tornarem-se políticos ou magistrados. Com respeito à guerra tanto Calvino quanto os Puritanos ensinaram que a defesa era permitida. Os Anabatistas eram pacifistas e não queriam ter nenhuma relação com assuntos militares. É importante que lembremos que há tipos diferentes de batistas. Por exemplo, John Bunyan era um batista firmemente arraigado na tradição Puritana assim como os batistas reformados de hoje. É fácil ver quão próximos os batistas reformados estão dos presbiterianos (os filhos de João Calvino) quando comparamos a 2ª Confissão de Fé Batista de Londres de 1689 com a Confissão de Fé de Westminster. Vinte e oito dos trinta e dois capítulos são virtualmente idênticos. Estas Confissões de Fé representam o ponto alto do Puritanismo. Os Puritanos ingleses seguiram o exemplo de Calvino ao se envolverem com todos os aspectos da vida.
Por exemplo, Calvino era muito ativo na promoção da educação. Em 1559 ele fundou a Academia de Genebra com o intuito de construir uma Comunidade Cristã. Esta Academia atraiu estudantes de todas as partes da Europa e ao tempo da morte de Calvino, em 1564, contava com 1200 estudantes. Os Puritanos estavam igualmente preocupados de forma apaixonada com a educação e com os altos padrões acadêmicos. Quase todos os Puritanos eram formados em Oxford e Cambridge. Sidney Sussex College e Emmanuel College, em Cambridge, eram famosas instituições de ensino puritanas.
Calvino também preocupava-se com o sustento das 5000 famílias de refugiados que afluíram para Genebra entre 1542 e 1560. Ele foi fundamental no estabelecimento de dois hospitais e em um deles havia uma indústria de tecidos bem como uma tecelagem e uma fábrica de potes. (cf Building a Christian World View, vol 2, p 242, edited by W. Andrew Hoffecker, Presbyterian and Reformed, 1988). Até aqui eu descrevi Calvino em termos positivos. Como Lutero e como todos os demais líderes ele também teve pés de barro. Havia tendências autoritárias em Genebra que desfiguraram em parte o ministério de Calvino. Recomendo os ensaios no volume editado por Hoffecker por apresentarem uma visão equilibrada de Calvino em detrimento daqueles que idolatram aquele reformador. 


Esse interesse universal no bem-estar humano e essa preocupação social estão amplamente refletidos nas vidas dos Puritanos. Quando olhamos atrás para aquele período deveríamos notar que pressões e provações podem extrair o que há de melhor nos cristãos. A alta qualidade da exposição bíblica, equilibrada entre doutrina, experiência e aplicação prática foram frutos da tribulação. Em nossa geração a republicação deste material pela Banner of Truth na Inglaterra, e posteriormente pela editora americana Soli Deo Gloria tornou disponíveis muitos livros Puritanos preciosos.
A pergunta fica no ar: Por que os Puritanos são tão eficientes ensinando a teologia reformada levando-se em consideração que tantos outros falharam? A resposta é que o gênio espiritual dos Puritanos sempre repousou no fato deles serem homens de oração. Para eles a teologia não era somente um exercício acadêmico ou intelectual. A teologia reformada foi projetada para transformar vidas e inspirar ação. Este gênio era um gênio espiritual no qual os Puritanos cultivavam a oração, a doutrina, a experiência e a aplicação prática em equilíbrio e harmonia. Hoje costumamos ouvir o clamor de que Cristo une, mas a doutrina desune! Dêem-nos Cristo, não doutrina, é o lema! Para os Puritanos isso não passava de tolice superficial. Cristo vem a nós envolto no ensino bíblico, ou seja, na doutrina. Além disso, é a doutrina que dirige a vida. Doutrina é essencial. Ela é fundamental para tudo, mas deve ser aplicada de maneira amorosa e persuasiva.

 

O exemplo Puritano em aplicar a doutrina Cristã e o mandato cultural


As cartas neotestamentárias de Romanos, Efésios e 1 Pedro ilustram o princípio de uma aplicação tripartite do evangelho: primeiro nossa posição na igreja, segundo no matrimônio e na família, e terceiro a nossa posição no mundo.
Primeiro a vida deve ser mudada e deve ser trazida sob o domínio de Cristo. A partir da Igreja como o centro onde o crente deveria ser inspirado pela pregação ele sai para o mundo. Lá, no mundo, ele deve ser o sal da terra e a luz do mundo (Mat 5:13-16).
Como vemos na Confissão de Westminster e na Confissão Batista de 1689 os Puritanos acreditavam nas doutrinas da graça como a eleição e a redenção particular (Rom 8:28-30). Eles seguiram Calvino, resistindo a falsas racionalizações humanas. Por exemplo, eles resistiram à idéia de que Deus só ama os eleitos e odeia os não-eleitos. Esse erro é chamado de hiper-calvinismo. É um erro muito sério que está ocorrendo repetidas vezes nos dias de hoje. Os Puritanos eram peritos no seu entendimento do conceito de graça comum embora eles não tenham usado esse termo. O seu ensino está completamente de acordo com o modo pelo qual a doutrina da Graça Comum é exposta pelo Professor John Murray (cf. Works). Eles acreditavam que o Espírito Santo está constantemente em atividade, refreando o mal e promovendo o bem por toda a sociedade. Os Puritanos acreditavam no amor universal de Deus por todo o gênero humano (1 Tim 2:1-6; 2 Ped 3:9). Eles acreditavam na provisão universal de Deus para todo o gênero humano de acordo com a aliança feita com Noé como representante do mundo inteiro (Gen 8:20-22 e Sal 145).
Os Puritanos sustentavam que o mandato cultural de explorar e desenvolver toda a criação baseia-se em Gênesis 1:28-30. O Cristão deve esforçar-se para ser perfeito em toda boa obra e assim ele se esforça, sabendo que só Deus pode torná-lo perfeito em toda boa obra (veja Heb 13:21 KJV). Incluídos nas boas obras estão todos os aspectos do trabalho e da pesquisa. Toda vocação lícita deve ser perseguida usando princípios bíblicos como guia. O princípio importante é que os Puritanos trabalharam de dentro para fora, ou seja, da Igreja para fora, para o mundo. É correto os cristãos encorajarem a reforma de sociedade em todas as áreas: educação, política, economia, medicina, ciência. Porém é possível tornar-se tão absorto em nossa chamada secular com todas as suas elevadas exigências a ponto de acabarmos perdendo o equilíbrio da Igreja e da família. Equilíbrio é essencial. Os Puritanos personificaram esse equilíbrio.
"O princípio importante é que os Puritanos trabalharam de dentro para fora, ou seja, da Igreja para fora, para o mundo."
Sermões foram pregados em temas como o cuidado universal quanto aos detalhes no trabalho o que incluía a necessidade de ser probo, digno de confiança e honesto; cumprindo os contratos ou acordos. Os Puritanos eram rígidos em opor-se à corrupção e ao nepotismo na vida dos negócios. Eles não hesitaram em pregar em textos do tipo: “Balança enganosa é abominação para o SENHOR, mas o peso justo é o seu prazer.’ (Prov 11:1).
Quase todos os Puritanos pregaram sermões seqüenciais e expositivos cobrindo, desta forma, todos os assuntos contidos na Bíblia. Mas eles estavam preparados para romper com esse método sempre que fosse necessário. Durante a guerra civil na década de 1640 uma cidade foi invadida por soldados leais ao rei. Estes soldados se comportaram muito mal. Parte do seu mau comportamento estava em jurar e praguejar. O ministro daquela cidade era um Puritano chamado Robert Harris. Ele pregou um sermão em Tiago 5:12: Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo. Isso foi tão efetivo e tão condenatório para aqueles rudes soldados que eles ameaçaram atirar em Harris se ele pregasse novamente naquele texto. Destemidamente, no domingo seguinte ele anunciou como seu texto Tiago 5:12 e começou a expor! Ele chegou a ver um dos soldados preparar sua arma para atirar. Mas o soldado foi contido e não teve coragem de atirar no pastor. A convicção em seguir a ética bíblica em todos os assuntos custou caro aos Puritanos. Na adoração a Deus eles não estavam preparados para ceder, submetendo-se a regras feitas por homens ou criadas através da tradição.
O mesmo era verdade quanto à vida nos negócios ou no comércio. A ética Puritana do trabalho tornou-se famosa. É chamada de ética protestante do trabalho. Ela significa que o trabalhador sempre dá honestamente o seu melhor serviço. Ele nunca rouba tempo ou bens do seu empregador. Por outro lado o empregador Cristão deve ser justo com seus empregados e tratá-los bem (Tiago 5:1-6).
O cuidado escrupuloso quanto a detalhes está refletido no documento Puritano conhecido como Catecismo Maior de Westminster.
Qual é o oitavo mandamento? Resposta: O oitavo mandamento é: “Não furtarás.’
Quais são os deveres exigidos no oitavo mandamento? Resposta: Os deveres exigidos no oitavo mandamento são: a verdade, a fidelidade e a justiça nos contratos e no comércio entre os homens, dando a cada um o que lhe é devido, a restituição de bens ilicitamente tirados de seus legítimos donos; a doação e a concessão de empréstimo, livremente, conforme as nossas forças e as necessidades de outrem; a moderação de nossos juízos, vontades e afetos, em relação às riquezas deste mundo; o cuidado e empenho providentes em adquirir, guardar, usar e distribuir aquelas coisas que são necessárias e convenientes para o sustento de nossa natureza, e que condizem com a nossa condição; o meio lícito de vida e a diligência no mesmo; a frugalidade; o impedimento de demandas forenses desnecessárias e fianças, ou outros compromissos semelhantes; e o esforço por todos os modos justos e lícitos para adquirir, preservar e adiantar a riqueza e o estado exterior, tanto de outros como o nosso próprio.
Os Puritanos sobressaíram-se na pregação de um modo prático e muitos dos seus sermões refletem claramente esta preocupação em ser prático. Aqui estão alguns exemplos de títulos de sermões extraídos dos famosos sermões de Cripplegate que foram pregados em Londres e recentemente republicados em seis grandes volumes:
Que luz deve brilhar em nosso trabalho? (Richard Baxter)
Como devem ser encorajadas e apoiadas as mulheres que deram à luz? (Richard Adams)
Como devemos perguntar por notícias não como atenienses, mas como cristãos? (Henry Hurst)

 A esperança Puritana e o futuro


Em relação à segunda petição da Oração que o Senhor nos ensinou, Venha o Teu Reino, o Catecismo de Westminster sugere que deveríamos orar para que o reino do pecado e de Satanás seja destruído, o evangelho seja propagado por todo o mundo, os Judeus sejam chamados, a plenitude dos Gentios seja trazida, a Igreja seja plenamente equipada com todos os ministros do evangelho e as ordenanças, purificada da corrupção e aprovada e mantida pelos magistrados civis.
Os Puritanos acreditavam no reino de Cristo no presente. Eles ensinaram que não devemos ser desencorajados pelas trevas que prevalecem. Nós sempre podemos esperar a oposição feroz e o ódio de Satanás. No entanto, devemos sempre observar a soberania de Deus. Devemos lembrar a promessa de que Cristo reinará até que todos Seus inimigos se tornem estrado dos seus pés. Quando o Seu plano de evangelização mundial estiver completo ele virá e conquistará o último inimigo que é a morte (Sal 110:1; 1 Cor 15:25). Os Puritanos sustentavam que nós estamos nos últimos dias, isto é, a última e definitiva dispensação. É durante esse tempo que o monte da casa do SENHOR será estabelecido como principal entre os montes (Isa 2:2). É por esse tempo que a pedra citada por Daniel na interpretação do sonho de Nabucodonosor tornar-se-á uma montanha enorme e encherá a terra inteira (Dan 2:35 e 44). De acordo com os Puritanos esse é o tempo em que teremos que interceder para que as nações se tornem a herança de Cristo e os confins da terra venham a ser sua possessão (Sal 2:8). A Confissão Puritana de Westminster não é pré-milenista em seu ensino. 


A visão Puritana dá lugar à esperança quando declara que a grande apostasia predita em 2 Tessalonicenses 2 é cumprida no papado (veja o cap. 25 parágrafo 6). Isso é importante porque significa que nós precisamos resistir a uma atitude negativa de derrotismo como se Satanás fosse ter a vitória final. Nós devemos cumprir a grande comissão de ensinar todas as nações. Como Iain Murray mostra em seu livro A Esperança Puritana (The Puritan Hope), a escatologia dos Puritanos ingleses está no coração do grande movimento missionário mundial do século XIX. Esta visão positiva do futuro conhecida como escatologia da vitória tem tremendas implicações porque inspira visão. Motiva o esforço e o empreendimento. Se nós acreditarmos que o mal superará tudo, estaremos sujeitos ao temor e ao desespero. Assim não estaremos inclinados a nos esforçar muito. Já se o Evangelho for destinado a prevalecer em todas as nações então seremos inspirados a tentar grandes coisas para Deus. Buscaremos ganhar as nações para Cristo. E ganhar as nações para Cristo significa dizer que os corações de homens e mulheres serão renovados e trazidos à obediência ao Evangelho. O reino de Deus está dentro de nós. É daquela posição de estar “em Cristo’ que nós aplicamos os ensinos da Bíblia a todas as esferas da vida como Calvino e os Puritanos ingleses procuraram fazer.
Com respeito à cultura nós temos um mandato para desenvolver todas as esferas e trazer todas as áreas da vida humana sob as ordens e o domínio do Príncipe da Paz (Sal 8). Devemos orar sempre para que a Sua justiça prevaleça. Devemos orar a oração do Salmo 72. Precisamos declarar que o Príncipe da Paz prevalecerá. Nossa expectativa é de que ele defenda os aflitos dentre as pessoas e que salve os filhos dos necessitados. Precisamos orar para que a terra inteira seja cheia da Sua glória assim como as águas cobrem o mar (Sal 72). Os Puritanos creram nessas perspectivas como tendo cumprimento certo. O futuro era tão glorioso quanto as promessas de Deus. Essas promessas têm um efeito radical em nossas vidas de oração. Que todos nós sejamos incitados a não dar nenhum descanso ao SENHOR até que ele estabeleça a Sua Igreja e faça dela um objeto de louvor na terra (Isa 62:6,7).

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Fonte: Bom Caminho  (http://www.bomcaminho.com/eh001.htm)