Por
causa da propensão ao mal presente na natureza humana, os puritanos
estavam bem cientes do engodamento do pecado. John Owen enxergou três
estágios no engano do pecado.
(1) - Primeiro,
a perspectiva se perde na vileza do pecado e na maravilha da graça de
Deus. A tendência do pecado é sempre diminuir a seriedade do pecado. A
verdade bíblica perde sua empunhadura na imaginação e é reduzida a
simples conteúdo cognitivo. À medida que as sensibilidades espirituais
são entorpecidas, o cristão perde aquele "prazer santo" que já foi
motivo primeiro em sua vida.
(2) - Em segundo
lugar, quando as inclinações não estão firmemente direcionadas às
coisas de Deus, a atração do pecado faz sua aparição na imaginação. À
medida que o pecado é contemplado sem o correspondente senso de
desgosto, ele capta a imaginação e a torna positivamente desejável. A
imaginação "rola" o prazer do pecado, "tal qual o rolar da comida, feito
pela língua, para agradar o paladar".
(3) - Em terceiro
lugar, a vontade anui ou que parece ser bom à mente e cria
racionalizações pra justificar o pecado que está sendo contemplado. As
emoções são alteradas e inflamadas pelas representações vívidas do
prazer do pecado, enquanto as convicções da consciência são aliciadas.
Se essa "corrente de engano" não for quebrada, ela conduzirá a atitudes e
ações pecaminosas. "Mas tarde, após o pecado residente ter criado um
padrão de hábito, o ciclo pode ocorrer tão rapidamente que não haverá
mais quaisquer consciência dos "estágios", do "conferenciar e do
seduzir". Em lugar disso, o comportamento acontecerá rapidamente e com
pouca advertência".Nesse sentido, Thomas Brooks adverte contra o engano
do pecado quando ele aparece por intermédio das cores da virtude. Em sua
descrição acerca do efeito produzido pelo desmascarar do pecado, a
eloqüência de Brooks condiz com a importância do evento e capta a o
intensidade que é a marca registrada do puritanismo:
"Ah,
almas! Quando te deitares sobre o leito de morte, e compareceres diante
do tribunal, o pecado será desmascarado, suas veste serão retiradas, aí
ele terá a aparência de mais vil, imundo, e terrível que o próprio
inferno; dessa forma, aquilo que outrora aparentava ser doce agora
parecerá tremendamente amargo, e aquilo que aparentava ser mais
prazeroso parecerá tão desprezível, tão assustador à alma. Ah! a
vergonha, a dor, o fel, o amargor, o horror, o inferno que a realidade
do pecado, quando despido, despertará nas pobres almas! O pecado
certamente se demonstrará mau e amargo para a alma, quando suas veste
forem arrancadas... até temos pecado, Satanás é um parasita: quando
pecamos, ele se torna um tirano"
Brooks
também adverte que dar preferência a um pecado menor impele o diabo a
nos tentar a cometermos um pecado maior. "O pecado possui natureza
usurpadora; ele rasteja, deslizando pelos degraus da alma, passo a
passo". Com isso, Owen concordou, apresentando o pecado como uma força
existente dentro do coração humano:
"Primeiro
ele cobiça, mexendo e movimentando invenções imoderadas na mente;
deseja, por meio dos apetites e dos interesses, propondo-os à vontade.
Mas não pára por aí, pois não pode parar; ele insta, pressiona e
persegue seus propósitos com determinação, força e vigor, luta, contende
e guerreia para obter seu fim e propósito"
Dessa
forma grande parte do aconselhamento puritano concentrava-se no
problema do pecado por causa da sua extensão penetrante, seu caráter
enganador e sua natureza pervertida. Reconhecendo o engano residente em
cada coração, os conselheiros puritanos sabiam que aquilo que as pessoas
menos queriam ouvir era o que elas mais precisavam ouvir. Por
conseguinte, a solução que os pastores puritanos ofereceram aos dilemas
criados pelo domínio do pecado foi o princípio da mortificação.
Mortificação
significa matar as obras do corpo (Rm 8.13). Mortificar significa tirar
toda a força, o vigor e o poder do pecado, de modo que ele não possa
agir por conta própria ou se impor na vida do crente. Isto inclui não
apenas o fruto do pecado nos padrões de conduta exterior, mas também a
raiz do pecado nas motivações e desejos interiores.
Em
seu desenvolvimento do conceito de mortificação, Owen explica primeiro o
que o conceito não é, antes de descrever o que ele é. Mortificação não
significa eliminar o pecado a tal ponto nesta vida que esse deixa de se
constituir problema. Embora, esse seja o alvo da santificação, ele não
pode ser alcançado na vida presente por causa da presença do pecado que
em nós habita ( Rm 7.14-25). Em segundo lugar, mortificação não
significa alcançar um grau de civilidade ou conformidade à moralidade
exterior, pois tal "pode parecer para o próprio homem e para os outros
que são bastante mortificados, quando, quem sabe, seus corações sejam um
fosso permanente de todo tipo de abominações." Em terceiro lugar, a
mortificação não significa substituir um pecado por outro, pois todo
pecado é digno de morte. Por fim, vitórias ocasionais sobre o pecado não
constituem mortificação do princípio do pecado.
O delinear de Owen daquilo que está presente na mortificação foi muito bem resumido por Fergson:
"Ao
contrário, a mortificação envolve o enfraquecimento habitual do pecado,
e o constante lutar contra ele, com certa medida de sucesso. A batalha
precisa ser perpétua, pois cada manifestação do pecado contém as
sementes do domínio ímpio do pecado, e inclina-se sempre para o mesmo
fim. Existe uma crucificação universal necessária da carne por meio da
qual o peado é enfraquecido"
O
segredo do caráter puritano pode ser encontrado na atitude para com a
vida cristã na constante batalha espiritual contra o pecado. Isso difere
bastante da quantidade de seminários a respeito de batalha espiritual
que estão sendo oferecidos hoje, em que o cristão aprendem a lutar
contra forças demoníacas ao seu redor. Os puritanos não lutavam contra
demônios, mas contra si mesmos, por conseguinte adquiriam certa maestria
sobre si mesmos, produzindo piedade e vida.
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