O maior objetivo da igreja não é o de crescimento numérico. Nunca foi. A obrigação da igreja é pregar e ensinar o evangelho. Só isso. Se as pessoas irão se converter ou não, aí já é outra história. É trabalho exclusivo do Espírito Santo. Não devemos ter nem mesmo compromisso com a conversão dos pecadores,
no sentido de insistir para que se convertam. Nosso único compromisso é
pregar e ensinar, sem a expectativa, inclusive, de conversão. Isso não
nos cabe.
Quando
o assunto é evangelização e missões, é intrigante constatar a
utilização apenas parcial do “Ide”. As pessoas sempre citam “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). É o texto
preferido para abordar o assunto. Porém, o verso seguinte, que também
faz parte do mesmo contexto, que também faz parte do “Ide”,
“ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado
(Mateus 28:20), por incrível que pareça, é sempre, de forma proposital,
esquecido. Dá muito trabalho; deve ser isso. E, depois, não é
interessante ter pessoas esclarecidas e com um bom conhecimento
doutrinário e teológico em nossas igrejas. Essas pessoas são muito
chatas; não se deixam nem manipular.
Ora,
não se faz um discípulos de um dia para o outro. Também não se ensina a
"guardar os preceitos de Cristo" de forma instantânea. É uma verdadeira
gestação espiritual, é um verdadeiro parto espiritual, a partir da
palavra de Deus. Ou seja, é necessário tempo de estudo para que as
pessoas aprendam os desígnios de Cristo e tornem-se seus discípulos,
isto é, seguidores daquilo que ele ensinou e de toda a Escritura
Sagrada. Mas as “igrejas Fast Food” da atualidade não têm mais esse
tempo disponível para isso!
Discípulo
é, em última análise, seguidor. Não somente seguidor de pessoas.
Seguidor de idéias, de mensagens, de ensinamentos. Mas, como seguir,
como ser discípulos, se nem ao menos se conhece o que seu mestre
ensinou? Seguir o quê? O que estamos formando em nossas igrejas?
Discípulos de Cristo ou um amontoado de pessoas que mais se parecem com
“cifrões ambulantes”?
A
questão não é só arrebanhar. Aliás, Cristo advertiu seriamente os
fariseus quanto a essa prática, pois "percorriam o mar e a terra para
fazer um prosélitos” e depois os tornavam duas vezes mais merecedores do
inferno (Mateus 23:15). Uma coisa é fazer discípulos de Cristo outra coisa é fazer congregados e membros de igreja. A segunda é extremamente mais rápido e fácil.
O movimento de crescimento de igreja, muitas vezes, tem incutido na mente dos crentes, e em especial de líderes, que
eles precisam fazer a igreja crescer; que esse é seu compromisso. Não
é. Cristo nunca nos chamou para lotar igrejas e sim para pregar o
evangelho, independentemente se haverá ou não conversões.
Essa
gana por crescimento numérico está tão evidente que não ouvimos mais a
frase "procure uma igreja genuinamente evangélica mais próximo de sua
casa". Talvez porque elas estejam em extinção? Pode ser, mas talvez,
principalmente, porque a preocupação maior é encher “a minha igreja” e
não anunciar as boas novas do evangelho.
Evidentemente
que se evangelizar muito, naturalmente, a tendência é que mais pessoas
sejam acrescidas à igreja local. Mas essa não é uma condição sine qua non.
Temos alguns relatos na literatura de missões de servos de Deus que
pregaram o genuíno evangelho por diversos anos sem, contudo,
presenciarem conversões. Eles não estavam fazendo o trabalho direito?
Claro que não era isso. Apenas aprouve ao Espírito Santo não salvar
aqueles que ouviram a pregação do evangelho. Mas,
e daí? Não temos nada com isso. Se haverá conversões ou não é coisa que
não nos compete. Nossa responsabilidade é pregar, ensinar "todas as
coisas que Cristo tem ordenado". Só isso. Afinal, a pregação do evangelho tem duplo objetivo: salvar os eleitos e selar a condenação dos répobros.
O
próprio apóstolo Paulo pregava para um grupo de mulheres e, diz o texto
sagrado, que "O senhor abriu o coração de Lídia" (Atos 16). Apenas o
dela. Essa, certamente, seria considerada uma cruzada evangelística
fracassada hoje em dia.
Encher igrejas e converter pessoas definitivamente não é o trabalho para o qual fomos chamados.
Claro que "casa cheia" é bom para o ego da igreja e, principalmente, do
pastor da igreja. Para o ego e para o bolso. Mas a questão é: estamos
"fazendo" discípulos de Cristo ou arrebanhando pessoas para encherem
nossos bolsos? Muitas igrejas neopentecostais, e até tradicionais sob
essa influência, têm negociado o evangelho e aberto mão dos preceitos escriturísticos
sob o argumento da “urgência” da evangelização. Leia-se “urgência de
crescimento numérico”. Na verdade, leia-se "crescimento de arrecadação".
“Precisamos salvar as almas que estão indo para o inferno”, dizem
alguns. Que triste motivação para pregar o evangelho! Nem mesmo a pregação do evangelho poderá modificar o destino eterno dessas almas. Amor
pelas “almas perdidas” não deve ser a motivação para pregar o
evangelho, muito embora isso pareça estar revestido de uma
espiritualidade tão límpida quanto pode ser. Nossa motivação deve ser a
obediência aos chamamentos de Deus.
O
resultado dessa negociação do evangelho; desse evangelho “água com
açúcar” que está sendo pregado nas igrejas é o que, infelizmente, temos
visto nos últimos dias: uma igreja evangélica extremamente
descaracterizada, misturada, desviada e desmoralizada.
Finalmente,
é lamentável que o trabalho de evangelização da igreja seja atrelado,
ainda que de forma subtendida, a recompensas e resultados. Esse é apenas
o nosso dever. Não passamos de "somos servos inúteis” quando fazemos o
que é para ser feito. De que recompensa estão falando? De que
resultados? A igreja cheia? Os dízimos aumentando exponencialmente? Os
bolsos dos pastores cheios? É essa a impressão que fica!
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FONTE: FILOSOFIA CALVINISTA - www.filosofiacalvinista.blogspot.com
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